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Maternidade se fortalece em espaços de privação de liberdade

Por Redação - Agência PA (SECOM)
12/05/2019 07h07

"Quando eu sair daqui pretendo acabar meus estudos, arrumar um trabalho, pegar ela pra morar comigo e reconstruir o laço com ela, de mãe e filha. Não sei o que está se passando na mente dela. Não posso conversar com ela direito. A saudade aperta, mas tem o dia que ela vem me visitar. Só que é poucas horas e não dá pra matar a saudade". As palavras de uma das 15 adolescentes que cumprem medida de internação no Centro Socioeducativo Feminino (CSEF), em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, revelam a importância da figura materna, principalmente na vida de crianças e adolescentes.

Há oito meses privada de liberdade, após cometer um ato infracional, ela vive o drama de ficar longe da filha. Aos 17 anos, ela é uma das duas internas com filhos, atualmente custodiadas pela Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa), entre 22 socioeducandas. 

"Eu sempre tive conflito na minha família. Tive uma mãe e um pai afastados, e uma infância e adolescência frustradas. Com isso fui começando a fazer coisas erradas, e foi o que me trouxe pra cá", contou a adolescente, que desde os 12 anos mora com a avó, a mesma pessoa que leva a criança para visitar a mãe a cada duas semanas na unidade de internação. Com a mãe biológica morando em outro município, a adolescente vê a avó como fundamental em sua vida. "Eu morava com elas duas, minha filha e minha avó. Tenho ela como mãe. Ela me ajuda muito. Minha avó é meu apoio", informou a socioeducanda, cuja filha não tem a presença do pai. Por ele também ter se envolvido com ato infracional, a mãe escolheu manter a filha distante.

Figura feminina - Segundo a psicóloga Cirlu Cohen, a família dos adolescentes atendidos pela Fasepa geralmente é centralizada na figura da mãe. "Em mais de 90% dos casos a mãe é uma referência afetiva, e quando eu falo mãe, não necessariamente é a mãe biológica. Pode ser uma cuidadora, avó, tia, mas geralmente é uma figura feminina, e ela que é a provedora de cuidados e afetos. Ela que nutriu esse jovem nos primeiros anos e norteou a qualidade da relação dele com o mundo e com a vida", explicou a psicóloga.

A distância também pode ter seu lado positivo na relação entre mãe e filho, como é o caso da mãe do jovem de 18 anos que cumpre medida socioeducativa no Centro de Internação Jovem Adulto (Cijam). "Meu melhor presente seria que ele saísse daqui outra pessoa, transformado, porque é uma situação muito difícil passar por tudo isso para nascer aquele amor de mãe e filho entre nós dois. Agora, a gente já se respeita, ele já me beija, me abraça, diz que me ama, coisas que ele não fazia antes. A gente não tinha esse contato de mãe e filho; agora a gente tem. Deus está dando uma segunda chance para ele. Eu espero que ele agarre essa chance que Ele (Deus) está dando", declarou.  

Dia das Mães - No mês de maio, todas as unidades socioeducativas do Pará realizam atividades em homenagem às mães. Durante a programação do CSEF, realizada na sexta-feira (10), avó e filha assistiram à apresentação da socioeducanda cantando no coral, e ainda receberam o brinde produzido por ela.

Durante 45 dias, as adolescentes participaram de oficinas de musicalidade, dança, artesanato com produção de brindes e decoração do espaço, além da gravação de um vídeo com os depoimentos das adolescentes em homenagem às mães.

A pedagoga do CSEF e uma das coordenadoras do evento, Maria José Melo, disse que, além dos servidores da Fasepa, a programação contou com a participação de professores da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e de grupos de espiritualidade, como o Pro-Vida, a Igreja Adventista e o grupo musical Samba e Louvor. No processo pedagógico, acrescentou, "a gente cria essa perspectiva de ela ter um futuro melhor, mostrar que o caminho é pela educação".

Para a adolescente e mãe, a esperança de liberdade é cada vez maior. "Quando eu sair daqui pretendo terminar meus estudos e iniciar a carreira de advogada. Como eu nunca tive muito incentivo e nem força de vontade, lá fora eu não tava estudando. Aqui dentro eu passei a ter vontade e a gostar de estudar. Eu quero passar totalmente as coisas diferentes do que eu vivi pra minha filha. Quero dar muito amor e carinho pra ela", afirmou a socioeducanda.