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DEBATE VIRTUAL

Estado e sociedade discutem a adaptação da mulher às mudanças climáticas

O secretário Mauro O’de Almeida destacou a necessidade de as mulheres serem ouvidas nas discussões sobre o clima

Por Anna Paula Mello (SEMAS)
12/11/2020 22h01

Representantes do Governo do Pará, de organizações não governamentais, povos indígenas e comunidades remanescentes de quilombos participaram do Webinário Equidade, Igualdade de Gênero e Clima, promovido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e pelo Fórum Paraense de Mudanças e Adaptação Climática (FPMAC), nesta quinta-feira (12). As exposições científicas e sociais giraram em torno da adaptação das mulheres às mudanças climáticas.

O titular da Semas, Mauro O’de Almeida, na abertura da programação, destacou a importância de participar das discussões com as conferencistas sobre temas voltados à política de mudanças climáticas, e que envolvem o Programa Estadual Amazônia Agora. “Precisamos muito da proatividade das mulheres, mães e guerreiras presentes nesse debate”, afirmou o secretário.Representantes do Governo do Pará e de vários segmentos sociais participaram da videoconferência

Vulnerabilidade - No primeiro painel, Thelma Krugg, vice-presidente do Painel Intragovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostrou que relatórios produzidos pelo Painel identificam que países subdesenvolvidos são mais vulneráveis, e que o papel da mulher precisa ser reavaliado. Esses dados destacam que eventos climáticos extremos matam mais mulheres do que homens. Ela exemplificou que em Bangladesh, país do sul da Ásia, as mulheres não aprendem a nadar e são mais vulneráveis às inundações. Segundo os relatórios, de forma geral os governos têm barreiras próprias e capacidade limitada para investir, por exemplo, na redução dos riscos de inundações. “Gênero não é separar homens de mulheres; é muito mais que isso”, enfatizou Thelma Krugg.

Ruth Almeida, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), coordena o Grupo de Gênero, que discute condições climáticas no campo, e considera as relações desiguais de poder entre homens e mulheres. “Fatores culturais, relações de poder, de raça e etnia, sexualidade, geração, classe e território possuem interdependência. Há uma série de acordos, planos, leis, que precisam ser acompanhados de ações políticas, ir para a prática. Não é só falar de mulheres. Precisamos falar das negras, indígenas, quilombolas e outras, que têm que participar de decisões, ser agentes coletivas de decisão”, frisou.

A professora de Relações Étnico-Raciais, Helena Rocha, do Instituto Federal do Pará (IFPA), abordou o aspecto racial na questão de gênero, dizendo que é preciso reconhecer a necessidade administração equitativa dos recursos mundiais. “O Plano de Ação de Gênero da ONU não faz menção a mulheres negras, universaliza as experiências das mulheres e não se refere ao racismo estrutural. É preciso mais mulheres negras nas negociações climáticas, que participem de políticas públicas e outras necessidades de poder”, avaliou.

“Sem floresta não se vive” - No início do segundo painel, Tuxati Parkatêjê, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), fez um histórico da Federação, que está organizada e representa oito regiões – Belém; Marabá/Tucuruí; Oriximiná; Altamira; Itaituba/Jacareacanga; Tucumã/São Félix do Xingu; Santarém e Novo Progresso. Ela informou que mais de 25% do Pará são formados por indígenas de diversas línguas. “Somos humanos, e humanos precisam viver. Mas sem floresta não se vive. Temos invasores, grileiros, posseiros e agrotóxicos. A gente preserva nossas terras. A terra é como um filho. Nós precisamos de ajuda”, afirmou Tuxati Parkatêjê, do Povo Gavião, que habita a Terra Indígena Rio Maria, no sul do Pará.O Webinário Equidade, Igualdade de Gênero e Clima é uma promoção da Semas e do Fórum Paraense de Mudanças e Adaptação Climática

A analista de projetos Celma Oliveira, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Amaflora), desenvolve um trabalho com produtoras familiares na Associação Imaflora, no município de São Félix do Xingu, e defende justiça e igualdade de direitos a partir da inserção das mulheres, com geração de trabalho e renda e união na coletividade, com base em informações sobre sistema agroflorestal, agroecologia e restauração florestal. “Essa consciência é positiva. As mulheres do campo estão se capacitando e empreendendo, e estão contagiando familiares, amigos e vizinhos”, ressaltou.

Ouvir os nossos - A palestrante Edel de Moraes, ex-vice-presidente do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), abordou a mulher negra da floresta no Marajó, no restante da Amazônia, com identidade extrativista, desenvolvimento rural e agroecológico, além de ações que contribuam para a manutenção dos conhecimentos tradicionais e coletivos. “Precisamos trabalhar na garantia da terra, acessar serviços de saúde, energia e educação, com mobilização social”, disse Edel de Moraes.

“A gente precisa dar ouvidos aos nossos. São as mulheres que cuidam da roça, das crianças, da casa, mas não somos ouvidas. Temos que sair dessa invisibilidade da população negra e das populações tradicionais. Dizer como eu quero, como é que faz. A gente precisa priorizar a mulher nesse processo”, destacou Valéria Carneiro, coordenadora de Igualdade de Gênero da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu). 

Os dois painéis tiveram como moderadoras a diretora de Bioeconomia, Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais da Semas, Andrea Coelho, e a coordenadora de Conservação da Organização Não Governamental The Nature Conservancy, Teresa Moreira.

Também participaram do evento a diretora de Ordenamento e Educação Ambiental da Semas, Patrícia Menezes, e a oficial do Programa de Gênero, Raça e Etnia do Fundo de População da Organização das Nações Unidas, Luana Basílio e Silva.