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Pandemia estreitou amizade entre pacientes e profissionais da saúde, no Hospital Abelardo Santos  

Isolamento e vulnerabilidade provocados pela Covid-19 favoreceram a criação de laços de afeto entre doentes e equipes

Por Luana Laboissiere (SECOM)
20/07/2021 11h40

A rotina dentro de um hospital é desafiadora tanto para quem trabalha, quanto para quem está em tratamento de saúde e aos seus acompanhantes. Mesmo num ambiente cercado de incertezas e dor, há esperança e solidariedade, as quais proporcionam laços que se estreitam para o resto da vida. Em Belém, no maior hospital da Rede Pública Estadual, o Regional Dr. Abelardo Santos, no distrito de Icoaraci, grandes amizades foram formadas durante os atendimentos exclusivos aos pacientes com Covid-19.

A primeira e segunda onda da pandemia no Pará mudaram a rotina da unidade. A incerteza de um tratamento ainda pouco conhecido pela ciência, trouxe insegurança para quem estava arduamente lidando com a doença. “Foi um momento difícil de esquecer e ser explicado. Fazíamos o que estava ao nosso alcance, mas cuidamos de todos como se fossem nossos familiares”, descreveu a enfermeira Anny Segóvia. Lidando, este ano, com 220 leitos exclusivos à doença, um paciente em particular, Anny não esquece. “Fiz muitos amigos, mas o Esdras, me arrebatou com a sua força e a vontade dele viver”, relatou.

O assessor de relacionamentos, Esdras Nascimento Biagi, de 44 anos, teve 85% do pulmão comprometido com a doença, e ficou 30 dias internado, sendo 15 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Para os profissionais de saúde que o acompanharam, o seu caso é considerado uma superação. "Foi um guerreiro, lutou pela vida bravamente. O seu Esdras é hipertenso, diabético, e mesmo com quase 90% do pulmão atingido pelo vírus não precisou ser entubado. Ele voltou para casa bem, recuperado", comemorou a enfermeira. 

Para Esdras, a amizade dentro do hospital resultou no sucesso do tratamento. “Foi muita luta. Com a ajuda de vários profissionais do hospital eu fui melhorando. A Anny, em um determinado momento, me ajudou com palavras de incentivo, além de dar atenção aos cuidados necessários ao meu tratamento. Todos os profissionais do Abelardo Santos são heróis”, afirmou. Para a enfermeira, esse laço vai ficar para toda a vida. “Procuro saber dele, saber se está bem. Oro e peço que Deus o proteja. Na sua alta médica, fizemos uma grande comemoração, mas o coração ficou apertado na hora do adeus”, relembrou.

Encontros 

Após quatro meses internado no Abelardo Santos, o comerciante Benedito Magno, de 69 anos, até hoje mantém contato com a enfermeira Milene Figueiredo. O morador de Muaná, no Marajó, internou-se na unidade com covid-19, mas seu quadro evoluiu e precisou amputar o membro inferior esquerdo em decorrência do diabetes. “Lembro quando ele chegou aqui, veio do Hangar para o Covid e depois para o vascular. Devido a pandemia, não estávamos recebendo acompanhantes, então, me apeguei a ele, prestando toda a assistência”, contou a enfermeira.

Ao passar do pico da pandemia, o idoso continuou hospitalizado, com um quadro de saúde cada vez mais complicado. “O caso era desafiador para a ciência. O ferimento não cicatrizava, mas eu não perdi a fé. Todos os dias, eu estava com a minha equipe cuidando do seu Benedito”, ressaltou Milene.
Para a família, o apoio dos profissionais do Abelardo, foi um divisor de águas na sua recuperação. “Não resta dúvida do cuidado e dedicação que ele recebeu no Abelardo. A enfermeira Milene foi incansável. Passou a covid, e ela continuou cuidando dele como se fosse um parente. Temos uma gratidão enorme e ele, todos os dias, lembra dessa amizade”, relatou Lídia Rachel, de 33 anos, nora do seu Benedito. Para estreitar ainda mais esse laço, no último final de semana de julho, a enfermeira deve aproveitar sua próxima folga para visitar o amigo, no Marajó. “Estamos ansiosos esperando por ela. Ele, com certeza, não irá esquecer esse momento até o final da vida”, finalizou a nora.

Rompendo fronteiras

 O músico Sérgio Roberto, de 41 anos, não resistiu à covid e faleceu, em abril de 2020. Seus últimos dias hospitalizado na UTI do Abelardo Santos, foram ao lado da assistente social Susane Pires. A amizade resistiu ao tempo e cruzou fronteiras. “Ele veio dos Estados Unidos para fazer um transplante de rins. Aqui no Brasil, foi infectado com o vírus. Ao ser internado, me aproximei dele e da sua família, ao passar as informações sobre seu estado de saúde”, lembrou Susane.

Preparada para dar um atendimento humanizado, a profissional mantinha contato com a esposa de Sérgio, Cristiane Rocete Santos, de 45 anos. “Nossa amizade surgiu quando o Serginho estava muito debilitado por causa da doença. Foi onde entrou Susane na nossa vida. Eu daqui dos EUA e ela me atualizando. Mas infelizmente meu marido veio a óbito e ainda sim, continuamos nossa amizade mesmo de longe. O carinho que temos uma pela outra é imenso. E quero que continue sempre assim. Espero um dia ir ao Brasil e agradecer pessoalmente tudo que fez por nós”, contou a esposa.Como retribuição pelos cuidados da assistente social, Cristiane enviou à amiga, presentes para eternizar os laços. “Ela mandou uma carta junto com uma cesta de café da manhã e o mais emocionante, ela uma guitarra que era do Sérgio”, finalizou, emocionada.
 
O Hospital Regional Dr. Abelardo Santos foi referência no tratamento do novo coronavírus, por decisão do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Nesta segunda onda, a unidade teve seu perfil alterado de especialidades, para o atendimento exclusivo à Covid-19, no dia 11 de março. O HRAS atingiu a marca de quase 700 atendimentos de pacientes vindos do sistema de regulação, operando com 65% da sua capacidade no acolhimento à doença, com 95 leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) e 145 clínicos, totalizando 220.

Texto: Roberta Paraense/ascom HRAS