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ONCOPLASTIA

Reconstrução mamária resgata a autoestima após o câncer, afirmam especialistas

Em Belém, Ophir Loyola realiza o procedimento tanto de forma imediata no momento da retirada da mama quanto de forma tardia após o fim do tratamento contra o câncer

Por Leila Cruz (HOL)
03/11/2021 10h44

Um dos tratamentos utilizados para combater o câncer de mama, a mastectomia gera repercussões na vida pessoal, social e familiar da mulher. O procedimento consiste na remoção de uma parte ou até mesmo das duas mamas por meio de cirurgia. 

Em Belém, o Hospital Ophir Loyola realiza o procedimento tanto de forma imediata no momento da retirada da mama quanto de forma tardia após o fim do tratamento contra o câncer, indicado para aquelas pacientes que necessitam passar por quimioterapia e radioterapia. O tratamento, informam os especialistas, vai depender do tipo e tamanho do tumor, da velocidade e disseminação das células cancerosas e do estado clínico da paciente.

Paciente Meire MoreiraOs médicos.buscam evitar as mastectomias radicais (retirada completa da mama) e cada vez mais realizar as cirurgias conservadoras para a preservação de tecidos, como pele e aréola, mas nem sempre é possível. O diagnóstico tardio atrapalha essa possibilidade, isso porque a doença é assintomática em fase inicial e caso a mulher não passe anualmente pela mamografia de rastreio, indicada a partir dos 40 anos pela Sociedade Brasileira de Mastologia, as chances da identificação precoce e de cura caem substancialmente.

A reconstrução mamária ou oncoplastia resgata a sexualidade, a autoestima e a autoimagem dessas mulheres. É possível restaurar a forma, a aparência e o tamanho dos seios de acordo com o formato, o biótipo da paciente e da técnica de mastectomia realizada. 

Meire Moreira, atualmente com 59 anos, passou pela mastectomia radical. “Fiquei abalada emocionalmente, mas tive o apoio de toda a minha família. Um dia meu marido pediu para me ver sem camisa, fiquei com receio, mas graças a Deus o sentimento dele por mim não mudou. Após o fim das sessões de quimioterapia, fiz a reconstrução com retalho miocutâneo em 2019.  Eu fiquei muito feliz com o resultado incrível, o vazio deu lugar a um seio lindo e perfeito. Aquela angústia desapareceu, eu me senti renovada”, conta.

Procedimento

O cirurgião plástico do HOL, Rui Azevedo, explica que no hospital a reconstrução é realizada tanto com o implante mamários (prótese de silicone ou expansor) quanto com o Tecido do Retalho do Músculo Reto Abdominal (TRAM) ou retalho miocutâneo, que consiste na utilização do tecido do abdômen inferior (pele e gordura) associado ao músculo reto abdominal. Essa é, portanto, considerada uma técnica importante para este fim, tanto de forma imediata quanto tardia.

“A metodologia mais complexa consiste na abdominoplastia associada à reconstrução mamária, contudo a paciente precisa ter área doadora, ou seja, se o abdômen não tiver tecido doador, a possibilidade é descartada. A reconstrução com a TRAM dá um volume e forma naturais, além de uma consistência semelhante a uma mama normal, portanto é o tipo de técnica mais utilizada no hospital e traz resultados estéticos muito satisfatórios”, informou o cirurgião plástico.

Médico Rui AzevedoRui Azevedo explica que as mulheres submetidas à mastectomia em ambas as mamas têm menos chances de realizar a cirurgia por meio do método de retalho abdominal. “A opção de reconstrução mamária através das próteses de silicone é mais indicada nesses casos. É muito difícil a paciente ter o tecido doador para os dois lados, ou seja, a escolha da melhor técnica implica na constituição física da mulher e do quadro clínico do tumor”.

A escolha do momento de realizar o procedimento deverá seguir indicações médicas e da equipe multiprofissional. As reconstruções imediatas são indicadas para pacientes com tumores na fase inicial, no estádio 1 e 2. Naquelas pacientes com estágio avançado e com metástase em outras áreas do corpo, opta-se por fazer um tratamento conservador e, num segundo momento, a reconstrução.
“Avaliamos junto com a equipe de mastologia qual o melhor momento para a realização da cirurgia reconstrutora para as mulheres que passaram por mastectomia e ainda darão seguimento com a quimioterapia e radioterapia. O ideal é que seja realizada após um ou dois anos da alta devido ao risco de recidiva do câncer”, ressalta.

Vivência

A esteticista aposentada, Maria Farah de Oliveira, 56 anos, recuperou-se de um câncer de colo do útero. Mas a neoplasia maligna reapareceu em 2012, desta vez no seio levando a mais cinco anos de tratamento. Agora, ela não esconde a alegria de ter a mama restaurada.  “Estou muito feliz, pois é diferente de quando nós vamos fazer a cirurgia de retirada, a sensação é outra. Minha autoestima vai voltar, vou ficar mais segura de mim”, comemora Maria.

O Centro de Alta Complexidade em Oncologia do hospital oferta os implantes mamários com próteses de silicone e expansores de tecido - uma espécie de balão com válvula acoplada, usado para expandir a pele para depois inserir o implante definitivo.O atendimento é multiprofissional formado por cirurgião plástico, assistente social, radioterapeutas, mastologistas, oncologistas clínicos, fisioterapeutas e psicóloga.

E, este ano, o HOL também participou da campanha nacional “O Poder do Rosa” promovida pela empresa Motiva Implantes com o apoio de cirurgiões plásticos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em alusão à campanha Outubro Rosa, que contempla mulheres mastectomizadas em todo o país. No HOL, oito pacientes foram beneficiadas com as próteses, reduzindo os custos e contribuindo para que mais mulheres sejam assistidas na instituição.

Entre elas está Leila dos Santos, 56 anos, que descobriu o câncer através da ultrassonografia de rotina e biópsia.  Ela fez mastectomia e o esvaziamento axilar (linfadenectomia) para a retirada dos linfonodos presentes na região axilar, também precisou passar pela quimioterapia e radioterapia. “Nesse momento tive uma percepção da minha vida, onde precisei superar várias situações difíceis através da religião e da fé. Estou encarando a reconstrução do seio como outro capítulo da minha história, o recomeço”, declarou Leila.

O procedimento da oncoplastia é importante para ajudar na saúde emocional da mulher, segundo destaca a psicóloga Roberta Santos. “O seio tem uma simbologia muito forte na feminilidade, a ideia de resgatar esses órgãos reflete nessa representatividade do ser mulher em muitos aspectos. Muitas pacientes se sentem mais encorajadas em fazer o tratamento a partir do momento em que sabem da possibilidade de uma reconstrução nos seios”, frisou.

Texto: Viviane Nogueira e Leila Cruz/Ascom HOL