Mães de pacientes internados no Hospital Oncológico Infantil confeccionam enfeites natalinos
Projeto 'Mãos Arteiras' desenvolve habilidades e estimula a criatividade e sustentabilidade, acolhendo mulheres que acompanham o tratamento dos filhos
No ateliê, mães de pacientes também desenvolvem o senso colaborativo Há poucos metros da enfermaria onde José Souza, 6 anos, está internado, há uma Sala de Música, no 2º andar do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém. Versátil, o espaço abriga uma biblioteca, os instrumentos musicais e o ateliê GAIA (abreviação para Gerar Amor, Ideias e Arte). É nesse ambiente que a mãe do menino, a maranhense Verônica Souza, descobriu uma nova habilidade: fazer artesanato com materiais sustentáveis.
"O José foi diagnosticado com um tumor cerebral, e há um ano e meio está em tratamento, evoluindo muito bem. Sempre tive curiosidade de fazer artesanato, mas meu filho vivia em em isolamento, e isso me fazia adiar essa vontade. Desta vez (na internação mais recente), tive a oportunidade de conhecer o projeto mais a fundo e achei legal de fazer", disse Verônica.
Sustentabilidade - Por meio do Projeto “Mãos Arteiras”, desenvolvido pela equipe de Humanização da unidade de saúde, em parceria com voluntários do Projeto “Sorriso Aberto", da Capelania Hospitalar da Igreja Angelim, o Hoiol promove bem-estar e incentiva o empreendedorismo. No ateliê, a reutilização de plásticos, papéis e outros materiais ajuda na conscientização sobre o impacto do descarte no meio ambiente.
Na semana que antecede o mês natalino, além da sustentabilidade o enfoque foi no senso colaborativo, com a confecção de artigos da época, para a decoração do Hospital. Com pedaços de Etileno Acetato de Vinila (popularmente conhecido como EVA), a artesã voluntária Simone Araújo, 49 anos, incentiva o uso criativo do material, que é flexível, com textura emborrachada e bastante utilizado na confecção de palmilhas, tatames, brinquedos e itens decorativos.Verônica e José decoram árvore de Natal com adorno confeccionado na oficina
Habilidades - Ela contou que sempre gostou de artesanato, e ao ver a possibilidade de ser voluntária decidiu ensinar suas habilidades, para que outras pessoas pudessem conhecer técnicas de reaproveitamento que podem gerar renda.
“Eu juntei a minha paixão pelo artesanato com a vontade de ajudar o próximo, e há um ano estou como voluntária no Oncológico Infantil. Aqui, ensino técnicas de colagens e bordados. Fazer artesanato é algo muito prazeroso para mim, e observo que gera bem-estar nas pessoas que aprendem”, disse a instrutora, que atenta para os recursos utilizados nas oficinas. “Escolhi o EVA porque sei que para o ambiente hospitalar é fundamental que não seja material alérgico, e que possa ser higienizado com facilidade”, explicou Simone Araújo.
Ateliê - Desde junho de 2021, quando o ateliê foi inaugurado, o Hoiol oferece oficinas. Em novembro daquele ano, realizou o primeiro workshop de guirlandas, com reuso de materiais como rolinhos de papel. Desde então, funcionários, voluntários e usuários se mobilizam para confeccionar peças para a decoração personalizada da unidade, tornando o ambiente ainda mais acolhedor.
"É sempre um prazer fazer qualquer oficina dentro do ateliê, porque sabemos quão importante é esse momento de socialização, principalmente para aqueles que estão internados há muito tempo. O período natalino tende a aflorar sentimentos diversos, pois remete à família, à casa, e sabemos que muitos estão distantes de seus lares. O nosso papel é tornar o momento mais agradável e acolhedor possível”, afirmou Joyce Wanzeler, integrante da do Setor de Humanização do Oncológico Infantil.
Segundo Joyce Wanzeler, as mães de crianças e adolescentes internados estão encantadas com a experiência. "Ao realizarmos o convite para as oficinas é comum ouvirmos delas que não levam jeito ou que nem sabem recortar. Mas no momento da oficina é normal descobrir certas habilidades. Ensinamos, criamos, desenvolvemos, e elas se descobrem artesãs. E é muito gratificante ver mães e filhos olhando para as árvores e comentando empolgados que estão participando da decoração do Hospital", acrescentou.
Impacto terapêutico - "Vivenciar um evento natalino é sempre muito especial. Esse período é repleto de representatividade e, dentro de um ambiente hospitalar com crianças e adolescentes em tratamento oncológico, essa data tem um simbolismo ainda mais forte. É por isso que celebramos a vida e renovamos a esperança com cada usuário, sempre acreditando nos avanços, na importância do tratamento e em dias melhores. Durante a oficina, conversamos sobre muitas coisas, como a união, a fé, o amor, a família. Sempre com palavras de afeto, que são primordiais nessa rede de apoio da qual todos nós fazemos parte”, reforçou a profissional do Hoiol, Bianca Dominguez.
"Natal é família e, às vezes, é o único momento do ano que conseguimos reunir todo mundo. Por isso, é difícil pensar em passar esse período longe de casa. Mas eu percebo que os profissionais daqui têm a preocupação de acolher as crianças sem esquecer de nós, mães”, reiterou Verônica Souza.Oficina incentiva mães a reutilizarem material que seria descartado
Serviço: Credenciado como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é referência na região Norte do Brasil no diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil, na faixa etária de 0 a 19 anos. A unidade do Governo do Pará é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), e atende pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e estados vizinhos.
Texto: Ellyson Ramos - Ascom/Hoiol