Projeto impulsiona ecoturismo comunitário na Calha Norte do Pará e valoriza saberes tradicionais
O curso também incluiu atividades práticas em campo, permitindo o contato direto com a biodiversidade da região

O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), em parceria com a empresa Maritaka Expeditions, promoveu uma importante ação de fortalecimento do turismo sustentável na região da Calha Norte do Pará. A iniciativa, realizada entre os dias 14 e 25 de maio, marcou o início do Projeto “Ecoturismo com Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte”, com a realização do curso “Ecoturismo e Observação de Animais Silvestres”, ministrado pelo guia e especialista Frederico Crema Leis.
A primeira etapa da capacitação ocorreu no município de Oriximiná e reuniu cerca de 60 participantes, entre estudantes universitários, lideranças indígenas e quilombolas. Durante os encontros, foram abordados temas como fundamentos do ecoturismo, técnicas de observação de aves e mamíferos silvestres, além do uso de aplicativos para mapeamento da avifauna local. O curso também incluiu atividades práticas em campo, permitindo o contato direto com a biodiversidade da região.

Na sequência, o curso foi levado até a comunidade de Jaramacaru, localizada nos arredores da Floresta Estadual do Trombetas, uma das Unidades de Conservação (UCs) geridas pelo Ideflor-Bio. Conhecida pela extração tradicional de castanha-do-pará e sementes de cumaru, a floresta também abriga uma rica diversidade de ecossistemas e espécies, como onças, macacos e aves raras, configurando-se como um território promissor para o turismo de observação da fauna.
Bioeconomia - “O curso foi uma oportunidade de escuta e troca de saberes. A comunidade demonstrou grande interesse pelo turismo de base comunitária como forma de proteger seu território e gerar renda a partir de seus próprios conhecimentos”, afirma Claudia Kahwage, técnica em gestão ambiental do Ideflro-Bio, que acompanhou a atividade em campo.

A ação integra um conjunto de metas do projeto financiado com recursos do Fundo de Compensação Ambiental do Estado do Pará (FCA), o qual é gerido pelo Ideflor-Bio, com foco na valorização cultural, conservação ambiental e desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis. Entre os objetivos principais estão a capacitação de guias comunitários, o mapeamento de áreas com potencial turístico, a implantação de infraestrutura de apoio com bioconstrução e o desenvolvimento de produtos turísticos, como protocolos comunitários e catálogos gastronômicos.
Protagonismo - “O projeto é uma demonstração concreta de que é possível promover a conservação da floresta ao mesmo tempo em que se fortalece a autonomia das comunidades tradicionais. Estamos incentivando o protagonismo local como caminho para um futuro sustentável na Amazônia”, destacou Nilson Pinto, presidente do Ideflor-Bio.

A atuação do Instituto na Calha Norte abrange um dos maiores mosaicos de áreas protegidas do mundo, incluindo a Estação Ecológica (Esec) Grão-Pará — maior UC de Proteção Integral do planeta — e outras florestas estaduais e reservas biológicas. Essas áreas, somadas às terras indígenas e quilombolas, compõem um território essencial para a regulação climática global e a preservação de modos de vida ancestrais.
Crescimento - O projeto também se alinha a um cenário de crescimento global do ecoturismo. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o segmento cresce mais de 20% ao ano. A observação de vida silvestre, especialmente de aves, movimenta bilhões de dólares, promovendo conservação e gerando emprego. Com sua imensa diversidade biológica e cultural, a Calha Norte do Pará pode se tornar referência internacional nesse nicho.

Além de impulsionar a economia local com baixo impacto ambiental, o ecoturismo comunitário contribui para a permanência dos povos tradicionais em seus territórios, reduzindo pressões como o desmatamento e a exploração predatória dos recursos naturais. Ao integrar conservação e valorização cultural, o projeto reforça um modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade e no respeito aos saberes locais.
Nilson Pinto ressalta que o Instituto seguirá com ações de formação, mapeamento e estruturação de produtos turísticos nas comunidades da Calha Norte, consolidando o território como um exemplo de integração entre conservação e desenvolvimento. “O ecoturismo comunitário é uma estratégia que alia conservação da biodiversidade, valorização cultural e geração de renda, assegurando um futuro sustentável para a Amazônia e seus povos”, concluiu o presidente do Ideflor-Bio.