Fapespa financia oficina de criação com madeira reaproveitada na Aldeia Kumenê
Ação integra o projeto Energia Limpa, Vida Sustentável, desenvolvido no âmbito da 'Iniciativa Amazônia +10', com financiamento da Fundação Amazônia (Fapespa)

Com a proposta de reaproveitar madeiras da poda de árvores para produzir peças como biojóias, colares, brincos, pulseiras ou mesmo objetos que possam ser utilizados em outros tipos de artesanato, como na cerâmica, cestaria ou no ramo têxtil a Oficina de Criação com Madeira Reaproveitada capacita artesãos indígenas. A ideia é transformar o recurso natural em novas oportunidades para a geração de renda dos participantes.
A ação é parte do projeto Energia Limpa, Vida Sustentável, desenvolvido no âmbito da Iniciativa Amazônia +10, com o financiamento da Fundação Amazônia de Amparo e Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) e executada pela Unifap, Ufopa e Unicamp.

Iniciativa Amazônia +10
A Amazônia +10 é uma iniciativa do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), do qual faz parte a Fapespa, e do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O programa apoia projetos que promovem a sustentabilidade e o desenvolvimento socioeconômico na região amazônica e o Projeto Energia Limpa, Vida Sustentável é um desses projetos apoiados pelo Amazônia + 10.
O projeto busca promover a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento econômico nas comunidades indígenas por meio do uso de energia renovável. A iniciativa quer fornecer energia limpa, mas também fortalecer as cadeias produtivas de artefatos locais, contribuindo para a autonomia e preservação cultural das comunidades.

A iniciativa vai atender a demanda de indígenas do Baixo Oiapoque - Terras Indígenas Uaçá, Juminã e Galibi - além das Terras Indígenas nas regiões Trombetas-Mapuera e Nhamundá-Trombetas, localizadas na área da Calha Norte.
“A Iniciativa Amazônia +10 aproxima ainda mais a ciência às demandas da sociedade amazônica. A ciência é um vetor importante para o desenvolvimento sustentável e equilibrado. Nesse sentido, o governo do estado, através da Fapespa, busca cada vez mais as parcerias para viabilizar os projetos que aliam o conhecimento tradicional com os novos desenvolvimentos tecnológicos para impulsionar a Bioeconomia.”, avalia o gestor da Fapespa, Marcel Botelho.

Oficina de Criação não envolve o corte de novas árvores
Todo o material utilizado no curso já se encontra acessível nas aldeias, o curso iniciou no sábado (12) e segue até dia 19 de julho, na Aldeia Kumenê, no município de Oiapoque (AP).O
O projeto Energia Limpa, Vida Sustentável articula soluções energéticas descentralizadas, valorização de conhecimentos técnicos e científicos indígenas e a promoção de economias de base comunitária em territórios indígenas do Baixo Oiapoque. A coordenação é da doutora Elissandra Barros, da Universidade Federal do Amapá; da doutora Lílian Rebellato, da Universidade Federal do Oeste do Pará; e da doutora Artionka Capiberibe, da Universidade de Campinas.

A Oficina de Criação é ministrada pelas pesquisadoras associadas, Marília Giesbrecht; Keyla Palikur; e pelas coordenadoras Elissandra Barros e Artionka Capiberibe na Aldeia Kumenê (Oiapoque) e quer consolidar a continuidade do Eixo do Projeto dedicado ao fomento das cadeias produtivas de artesanato, principalmente vinculadas a cerâmica e madeira.
De acordo com a coordenação, o objetivo é fortalecer tanto a transmissão de saberes quanto às competências manuais e a capacidade de integrar ferramentas elétricas de precisão — serras circulares, tupias e lixadeiras — contribuindo para a autonomia técnica e econômica dos artesãos.
“A ideia principal é cortar, colar madeiras diferentes, fazendo marchetaria, uma técnica de acabamento que deixa as coisas naturais e que pode agregar bastante valor às peças. Para isso, propomos levar algumas ferramentas elétricas manuais básicas de marcenaria, visando desenvolver as peças em marchetaria”, explica Marília Giesbrecht, uma das pesquisadoras convidadas.
Projeto tem duas etapas
Segundo a equipe do projeto, a iniciativa será desenvolvida em duas etapas. Na primeira, os artesãos que já dominam técnicas tradicionais — especialmente entre os Palikur-Arukwayene — serão orientados no uso de ferramentas elétricas, como serras e lixadeiras. O objetivo é tornar o processo mais ágil e ergonômico, ao mesmo tempo em que se aprimoram as técnicas já praticadas cotidianamente. Na segunda etapa, o foco será o reaproveitamento de resíduos madeireiros, como sobras de peças maiores ou madeira de poda disponível no território.

A escolha de Kumenê não é casual, trata-se da principal aldeia dos Palikur-Arukwayene, povo com histórico de produção artesanal em madeira e, ao mesmo tempo, beneficiário das atividades de levantamento energético e onde também estão previstas instalações das placas fotovoltaicas. A energia elétrica surge como ferramenta de inovação e promoção da autonomia produtiva e também como elemento de apoio à independência produtiva das comunidades envolvidas.
A metodologia combina módulos de instrução teórica sobre segurança elétrica e manutenção de equipamentos, demonstrações práticas de corte, entalhe e acabamento, e sessões de co-design com protótipos de artefatos e biojoias. Ao final, cada participante entregará uma peça assinada e documentada em vídeo, contribuindo para o Acervo Digital do Projeto.
“Essa oficina faz parte de um dos eixos, que é a geração de renda dentro das populações que estamos trabalhando para manter uma tradição de produção de artefatos em madeira, que já é conhecida, mas a inovação vem também do reaproveitamento do que já é trabalhado, dando assim a oportunidade para que as novas gerações possam com isso também se manter dentro do seu território sem a necessidade de sair rompendo laços afetivos, familiares e culturais”, explica a doutora Lílian Rebellato, da Ufopa.
*Com informações de Gabriel Baena / Ascom do Projeto