Emater reforça compromisso com cultura afrodescendente nos 144 municípios do Pará
Quilombolas e agricultores de povos tradicionais e matrizes africanas participaram de reuniões, palestras e foram beneficiados com documentação

Promovida pelo Governo do Pará, por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), a 1ª Semana Estadual da Agricultura Familiar destacou, este mês, a efetividade de políticas públicas para as tradições agrícolas, alimentares, socioeconômicas e culturais das populações afrodescendentes nos 144 municípios paraenses.
Dentro da programação intensiva, pontuada pela Política interna de Interesses Difusos e Coletivos (PIDC) da Emater, equipes extensionistas entregaram, por exemplo, 17 cadastros nacionais da agricultura familiar (cafs) à comunidade quilombola Santa Maria do Itacoã-Miri, em Acará, na região do Tocantins, para que as cerca de 200 famílias tenham acesso a direitos como aposentadoria rural e possam fornecer produtos para a merenda escolar.

União de técnica e tradição - Para um dos moradores mais antigos da Comunidade Itacoã-Miri, José Monteiro, de 71 anos, produtor de açaí e frutas como cupuaçu e uxi, com o CAF, a ideia é aumentar a produção e aliar com a produção de cacau.
“Eu quero iniciar a produção de cacau, porque ele é uma opção no inverno. Daí eu pretendo enriquecer a produção nas terras firme e na várzea, produzindo açaí no verão e o cacau no inverno. Com a Emater, vamos pode agregar os nossos conhecimentos tradicionais dos quilombolas com as ferramentas e conhecimento técnico da Emater, para produzir mais”, disse.
A maioria dos produtores rurais do quilombo é composto por mulheres. Rejane Lima é um exemplo, ela é produtora de açaí e, diariamente, vai até a Feira do Porto da Palha. A agricultora, assim como os outros beneficiados, também comemorou o recebimento do CAF.
“Eu acredito que vai melhorar bastante a nossa produção, porque vamos aprender a manejar a terra e melhorar a qualidade do nosso açaí. Com o CAF, vamos poder ter acesso a programas e políticas públicas que, por meio da Emater”, afirmou Rejane.
Em Marituba, na Região Metropolitana de Belém (RMB), lideranças de quatro terreiros de tambor de mina (Ilê Casa de Mina Jejé Nagô Oxum Apara e Xangô Ayra, Ilê Casa de Mina Machado de Ouro, Ilê Casa de Oxossi Rei da Manhã e Ilê Obá Oyó Àkaráizô Oya) reuniram-se com representantes da Emater, na sede daquele escritório local, no Centro, a fim de estabelecer metas de atendimento às unidades tradicionais territoriais (utts), como capacitações sobre empreendedorismo e sobre cooperativismo.

Em Ananindeua, uma feira de exposição de hortifrutis e artesanato na Rua da Providência, no bairro do Coqueiro, ofereceu aos consumidores da zona urbana a oportunidade de compra direta de açaí batido, biojoias e galinha-caipira do Quilombo do Abacatal, situado às margens do Igarapé Uriboquinha, um braço do rio Guamá.
Em Curuçá, na região Guamá, uma palestra sobre Justiça Climática e impactos sociais das mudanças climáticas movimentou a comunidade quilombola de Algodão.
Diversidade e valorização - Para o presidente da Emater, Joniel Abreu, o trabalho da Emater com os Povos Tradicionais de Matrizes Africanas e Terreiros (Potmas) é uma diretriz consolidada.

“Hoje, de forma pioneira e inovadora, a assistência técnica e extensão rural [ater] oficiais do Governo do Pará reconhecem os marcadores sociais da população preta e conseguem adaptar o serviço público e as políticas públicas às reais necessidades étnicas, culturais e territoriais desses grupos, acompanhando-os em escuta, autonomia, empoderamento e reparação histórica”, ressaltou.
Técnico em Agroindústria e advogado mestre e doutor em Direito, o Gestor consagra a Semana Estadual como oportunidade de conscientização. “Não só de pautas específicas, mas de tudo relacionado à Amazônia rural paraense - indígenas, ribeirinhos, assentados da reforma agrária, pescadores, pecuaristas: cultura, bioeconomia, meio ambiente, dignidade humana, cidadania, segurança nutricional e alimentar. Mobilizamos a sociedade civil e trazemos para o conhecimento e para o diálogo questões cruciais, que importam à coletividade”, concluiu.
Parceria - Em 2024, de acordo com relatórios institucionais, a Emater atendeu mais de dois mil quilombolas em 125 territórios. A atuação é catalisada pela parceria com a Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh).