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HPV está associado ao desenvolvimento e progressão de vários tipos de câncer

Médicos do Hospital Ophir Loyola destacam importância do diagnóstico precoce e tratamento das lesões precursoras. Vacinação também é aliada.

Por Leila Cruz (HOL)
28/03/2024 10h27

A cada ano surgem 700 mil casos novos de infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) no Brasil, segundo estimativas do Ministério da Saúde. O vírus apresenta mais de 100 subtipos, os considerados oncogênicos têm maior risco de provocar infecções persistentes e desenvolver lesões que, se não tratadas, podem causar cânceres de colo de útero, ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe, alertam pesquisadores do Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, referência em Oncologia na região Norte.

Associada a mais de 90% dos casos de verrugas genitais, câncer de colo do útero e de ânus, a infecção por HPV é transmitida por via sexual, quando não há medidas de proteção. Apesar das orientações sobre o uso de preservativos em todas as relações sexuais e da oferta da vacina no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos, e também para pessoas com baixa imunidade, a infecção atinge muitas pessoas.

Segundo os especialistas, a baixa adesão às campanhas de vacinação no Brasil está atrelada à desinformação gerada por grupos antivacinas e o mito de que a imunização estimula o início precoce da vida sexual.

Membro do Laboratório de Pesquisa Clínica do HOL, o professor Diego Alcântara esclarece que o vírus infecta qualquer pessoa, seja por contato oral-genital, genital-genital ou até mesmo manual-genital, podendo ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal.

Contágio - De acordo com o especialista, muitas vezes um homem infectado, mas assintomático, mantém relação sexual com uma mulher sem uso de preservativo e acaba transmitindo o vírus. “É dentro da anatomia feminina que o Papilomavírus tem uma maior capacidade de se proliferar e originar as lesões características da infecção. A vacinação não somente previne, mas também reduz a reincidência, principalmente dos cânceres de colo de útero na mulher, de pênis no homem e do canal anal, onde o vírus demonstra se proliferar mais”, destaca Diego Alcântara.

As campanhas e as demais estratégias de rastreio auxiliam na detecção de lesões de alto risco cancerígeno, possibilitando o tratamento. O diagnóstico precoce reduz as taxas de mortalidade e aumenta, consideravelmente, a taxa de sobrevida. Em mulheres, as lesões precursoras são detectadas por meio do exame citológico, conhecido como Papanicolau.

A transmissão do vírus ocorre por contato direto com a pele ou mucosa infectadas. “O HPV infecta a mucosa e secreta proteínas que passam por dentro do DNA da célula e ativam uma proteína chamada ‘P16’. Essa proteína dá início a uma série de alterações que facilitam a infecção do hospedeiro, mas é a inflamação persistente que promove ou potencializa as chances do surgimento de um câncer”, informa Rommel Burbano, coordenador do Laboratório de Biologia Molecular do HOL.

Os subtipos são classificados com base no potencial de risco para o desenvolvimento da neoplasia maligna, e estão divididos em HPV de baixo risco e HPV de alto risco. O primeiro grupo inclui o HPV6 e HPV11, que geralmente não se encontram associados à etiologia de cânceres, mas estão presentes em lesões benignas de pele ou mucosas, como verrugas. Nas mulheres, essas lesões estão comumente presentes na vulva, vagina, colo do útero e canal anal. Entre os homens, são visualizadas no pênis, bolsa escrotal e ânus.

O segundo grupo é composto HPV16 e HPV18, responsáveis pela maioria dos casos de câncer por HPV. Causam lesões pré-cancerosas que evoluem para tumores malignos. São subtipos altamente associados à carcinogênese.

Prevalência acima da média - O Hospital Ophir Loyola atua no ensino e na pesquisa dos casos tratados na instituição. Ao longo dos anos, pesquisadores concluíram que a prevalência do HPV nos tipos de câncer mais comumente associados ao vírus no Pará está acima da média da população mundial, e até mesmo acima da média brasileira.

“O câncer de colo de útero, por exemplo, apresenta uma média de prevalência de 13.4% no Estado, 6% no País e 3,1% no mundo. Para a neoplasia maligna de pênis, a média é de 1,1% no Estado, 0,2% no País e 0.2% no mundo. E referente à média de câncer de ânus provocado pelo vírus, é de 1,2% no Estado, 0,3% no País e 0,3% no mundo”, informa Diego Alcântara.

Potencial da vacina - Em 2017, uma investigação realizada com pacientes de câncer cervical tratados no HOL, e em outra instituição no Rio de Janeiro (RJ), atestou que a vacina HPV4, adotada desde 2014 pelo Sistema de Saúde, pode potencialmente reduzir cerca de 70% da incidência de câncer cervical. A implementação da nova vacina HPV9 tem o potencial de aumentar em 85% o impacto de imunização, ajudando a reduzir a incidência do câncer cervical.

Um estudo feito em 2018 sobre carcinoma anal demonstrou que indivíduos com infecção por HPV apresentaram ausência de tumores residuais após quimiorradioterapia. “Essa correlação é valiosa e pode direcionar futuras abordagens terapêuticas no canal anal. Outra análise, publicada em uma revista internacional de pesquisa oncológica em 2020, demonstrou que a presença do HPV em pacientes com carcinoma oral é um fator que diminui a agressividade do tumor”, ressalta o professor Diego Alcântara.

Em relação ao câncer de pênis na região, a infecção por HPV é encontrada em 60% dos casos. Entretanto, essa taxa não demonstrou associação com o pior prognóstico.

Sorologia - Em vista de todos os resultados relevantes na população paraense, o HOL passará a oferecer o exame de sorologia do HPV ainda este ano. “O intuito é identificar precocemente os indivíduos de alto risco oncogênico, evitando o aparecimento de lesões pré-malignas e, com isso, contribuir para a redução dos casos de câncer etiologicamente ligados à essa infecção”, adianta Rommel Burbano.

Caso seja detectado no paciente câncer causado pelo vírus, é possível definir o tratamento mais adequado. Isso ocorre porque o vírus é sensível à quimioterapia e à radioterapia. “Nesse caso, os pacientes não precisam passar por um tratamento cirúrgico invasivo. As chances de os casos de tumores de pênis, cabeça e pescoço e canal anal estarem associados ao HPV é acima de 70%. São informações que podem mudar o tratamento e gerar uma economia para a saúde pública”, conclui o coordenador Rommel Burbano.