Pronto-Socorro do Estado discute riscos da resistência antimicrobiana
A unidade da rede pública de saúde promoveu o 'Treinamento sobre Antimicrobianos: Reforçando os fluxos' para médicos, enfermeiros e farmacêuticos
A resistência aos antimicrobianos (RAM) é a capacidade de microrganismos (bactérias, vírus, fungos e parasitas) de sobreviver a medicamentos (antibióticos, antifúngicos, antivirais, antimaláricos ou anti-helmínticos), por meio de mutações genéticas. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), esse fenômeno pode ocorrer naturalmente ou ser causado por ações humanas, como o uso incorreto de antibióticos, mudanças no clima e problemas de higiene e saneamento.
Para debater sobre a responsabilidade do Pronto-Socorro Dr. Roberto Macedo (PSRM), situado em Belém, com relação aos antimicrobianos utilizados na assistência à saúde dos usuários, foi realizado nesta sexta-feira (5) o "Treinamento sobre Antimicrobianos: Reforçando os fluxos", na modalidade on-line, para médicos, enfermeiros e farmacêuticos da unidade de saúde.
Uso adequado de antimicrobianos, fluxos e programa de gerenciamento de antimicrobiano, assim com a importância da equipe multiprofissional no processo que envolve prescrição, dispensação e administração de antimicrobianos, e sua atuação com relação à segurança do paciente, foram assuntos discutidos no treinamento, que contou com a participação de cerca de 40 profissionais.
De acordo com a médica infectologista Natália Rodrigues, do Serviço de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (SCIRAS), uma das facilitadoras do treinamento, ministrado em parceria com Telma Araújo, coordenadora farmacêutica do PSRM, a capacitação discutiu a responsabilidade do Hospital e a preocupação com a prescrição desses medicamentos, que podem ter impacto na microflora da unidade de saúde e na vida dos pacientes assistidos no Pronto-Socorro.
“O treinamento reforçou sobre as prescrições de antimicrobianos, enfatizando que elas sejam feitas de forma mais assertiva possível e na dose adequada, visando reduzir tanto os riscos e efeitos adversos inerentes às próprias medicações quanto os custos, já que o combate à resistência microbiana promove melhoria direta no tempo de internação e custos hospitalares, quanto à aquisição desses medicamentos e, sobretudo, na segurança do paciente”, destacou a especialista.
Avanço - O relatório de vigilância global da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2025 confirma um aumento alarmante na resistência bacteriana a antibióticos comuns. De acordo com o relatório, que contém análise de informações referentes ao período de 2018 a 2023, a resistência a antibióticos aumentou em mais de 40% das combinações patógeno-antibiótico monitoradas globalmente.
O levantamento revelou que, em 2023, uma em cada seis infecções bacterianas confirmadas em laboratório foi considerada resistente aos tratamentos antibióticos disponíveis. Sobre o avanço da RAM, o Ministério da Saúde alerta que o uso exagerado de antimicrobianos e o descarte inadequado de resíduos são os principais fatores que aceleram essa resistência. O uso indiscriminado desses medicamentos pode levar à RAM, que atualmente é uma grave ameaça à saúde pública.
No primeiro semestre deste ano, o Pronto-Socorro foi selecionado para participar do Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos (PGA) em Hospitais do SUS (PeGASUS), iniciativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e apoio do Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). O Programa foi iniciado em 2024, em hospitais públicos, com a proposta de fortalecer a implementação de práticas para o uso racional de antimicrobianos no Sistema Único de Saúde.
Aperfeiçoamento - A iniciativa do Pronto-Socorro em treinar sua equipe evidencia o esforço em melhorar os resultados clínicos, buscando a segurança do paciente com o combate à resistência microbiana, aperfeiçoando os tratamentos, inserindo a família no processo e o paciente no centro do cuidado, tendo como objetivo a redução dos efeitos adversos e a diminuição dos custos para o sistema de saúde, conforme preconiza o PGA.
"O treinamento com médicos, enfermeiros e farmacêuticos, profissionais envolvidos nos processos relacionados aos antimicrobianos, mostrou que todos estão empenhados em combater a resistência bacteriana e garantir a eficácia desses medicamentos, tendo como ponto de alerta a farmacologia e a farmacocinética dos antimicrobianos, interações medicamentosas, reações adversas, prevenção da resistência bacteriana e educação do paciente e comunicação eficaz. Todos esses processos terão sempre como foco a melhoria da segurança do nosso paciente", ressaltou a coordenadora farmacêutica do PSRM, Telma Araújo.
Médico generalista da Sala Vermelha do Pronto Atendimento Adulto do Pronto-Socorro, Pabllo Barbosa, um dos participantes do treinamento, disse que entre os últimos 20 anos poucos antibióticos foram criados, e que as bactérias têm um alto nível de proliferação, que faz com que a variabilidade genética seja significativa entre esses microrganismos. Isso contribui para que mecanismos de defesa surjam, e eles podem ser resistentes a certos antibióticos, impactando no desfecho clínico do paciente.
O médico destacou que mais bactérias multirresistentes circulando pelos ambientes hospitalares acende um sinal de alerta, já que isso tem reflexos diretos na comunidade hospitalar. Ele acrescentou que uma das maneiras de controlar é fazendo o bom uso de antibiótico, e que no treinamento isso foi amplamente discutido.
“Esses treinamentos são muito importantes para a gente saber como é o perfil do nosso hospital sobre o uso de antimicrobianos, como está sendo a devolutiva sobre o controle desses medicamentos, e também para estarmos sempre em alerta sobre o quão perigosas são essas medicações quando não são utilizadas de forma correta. Discutimos sobre a tripla checagem feita por médico, farmacêutico e enfermagem, considerando a responsabilidade de cada profissional, e recebemos orientação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, sobre se a cobertura está adequada para aquele paciente, para aquele quadro clínico. Essas discussões são muito efetivas e têm grande impacto positivo no dia a dia da assistência à saúde", concluiu Pabllo Barbosa.
Dados de atendimento - Em 2025, de 1° de janeiro a 5 de dezembro, o Pronto-Socorro Estadual realizou 835.598 atendimentos, com destaque para 130.351 assistências de urgência e emergência, 8.131 internações e 4.950 cirurgias.
Administrado pelo Instituto Acqua, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), o PSRM, localizado na Avenida Augusto Montenegro. A unidade é referência em atendimento de Urgência e Emergência clínicas, funcionando 24 horas e atendendo casos críticos em especialidades como cirurgia geral, vascular, pediátrica, torácica, bucomaxilofacial e neurocirurgia, incluindo as minimamente invasivas - videolaparoscopia.
