Paciente com mais de 100 desenhos ganha exposição no Hospital da Transamazônica
Promoção da mostra do paciente Fernando Nascimento, de 20 anos, reforça o caráter humanizado que envolve as ações do Hospital Regional, em Altamira
Traços arredondados, linhas retas e cores vibrantes. Em uma folha de papel o mundo particular de Fernando Nascimento, 20 anos, ganha vida em forma de arte. “Gosto de vários desenhos, como esse aqui”, diz o jovem com autismo, ao apontar para uma imagem que mostra parte do caminho que ele segue de casa até o Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT), em Altamira, sudoeste do Pará, onde faz tratamento. E foi justamente a rotina entre a casa e o hospital que despertou o artista, conta a mãe, Silvânia Oliveira Bispo.
“Ele gosta muito, mostra para as pessoas, conversa sobre o desenho. Isso é gratificante”, diz Silvânia, que tem outro filho, também, paciente do HRPT, Mário, de 29 anos, atendido pelo setor de Neurologia.
Desde 2017, quando começou a ser acompanhado na unidade de saúde, Fernando já fez mais de 100 desenhos, e, na última quarta-feira, 24, véspera de Natal, ganhou um presente digno de artista profissional: uma exposição, com direito a público e cobertura da imprensa.
Parte das obras do jovem foi prestigiada por colaboradores do Regional da Transamazônica e ficará disponível no corredor da entrada principal pelas próximas duas semanas. “Todas as vezes que ele vem tem que ter o momento da pintura, então o porquê dessa ação é expor aquilo que demonstra quando vem ao hospital e faz esses desenhos”, conta Thais Oliveira, supervisora do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU-Ouvidoria), que funciona como uma espécie de atelier.
“O Fernando é um paciente muito especial pra gente”, declara Thais, emocionada com o resultado da galeria organizada por ela. O espaço conta ainda com um banner com informações sobre o artista-paciente.
O mural é composto de 12 desenhos, os mais significativos para o próprio jovem. E tem Psicologia por trás de cada rabisco, de cada cor e de cada forma. O que ele coloca no papel tem significado, funciona como uma linguagem pessoal, um dialeto particular. A psicóloga Fernanda Lago avalia. “É uma estratégia, como se a gente fosse dar voz para a pessoa que não consegue verbalizar, não consegue expressar oralmente o que sente”. Ao investir no bem-estar do paciente, o HRPT ajuda a diminuir o estresse e o medo, além de contribuir diretamente para o sucesso do tratamento. “Muita gratidão a todos pelo reconhecimento dos desenhos do meu filho artista”, se orgulha Silvânia, mãe de Fernando.
A diretora assistencial, Rosivania Barros, acompanhou a inauguração do espaço com os desenhos e se encantou com o que viu. “É um paciente nosso de longa data, a gente proporciona a humanização e o paciente tem necessidade de expressar, através da Arteterapia, o emocional. Ele fala conosco através dos desenhos expostos aqui hoje”. Para o diretor administrativo, Fillipe Okada, “esse é um momento de muito orgulho, compromisso e acolhimento aos usuários. No caso do Fernando é ainda mais especial porque é atendido aqui desde 2017”.
O HRPT estimula atividades artísticas a outros pacientes, em especial a crianças e àqueles com deficiências, transtornos ou síndromes. “A gente consegue perceber a alegria que ele tem nos olhos ao ser acolhido por toda a nossa equipe”, completa Okada. Dá para sentir a felicidade que o jovem carrega. Depois de conquistar os corações das equipes, status de querido e agora de artista, Fernando emocionou a todos com uma confidência. “Meu sonho é trabalhar nesse hospital”, disse ele, antes de iniciar uma sessão de abraços nos colaboradores, numa clara demonstração de carinho. Dessa vez não precisou de papel, tinta ou mesmo palavras. O abraço forte traduziu a obra mais valiosa desse artista: a gratidão.
Texto de Rômulo D’Castro
