Serviço de Referência em Dermatologia da Uepa sedia mutirão global sobre hanseníase
A iniciativa, promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em parceria com a International League of Dermatological Society, atendeu mais de 300 pessoas

Com ênfase no diagnóstico precoce e tratamento da hanseníase, o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), sediou um mutirão realizado pelo Serviço de Referência Especializado em Dermatologia, nesta sexta-feira (18). Belém foi um dos 10 locais selecionados no mundo para realizar o mutirão, promovido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) em parceria com a International League of Dermatological Society (ILDS), para marcar o Dia Mundial da Saúde da Pele, celebrado no último dia 8 de julho.
Foram atendidos mais de 300 pacientes com sintomas da doença, de forma gratuita, via Sistema Único de Saúde (SUS). A programação envolveu médicos dermatologistas, residentes de Dermatologia e alunos do curso de Medicina, além do corpo técnico e administrativo da Dermatologia/Uepa. O mutirão contou com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma).

Manuel Leandro Silva da Silva, morador de Acará, município do nordeste paraense, aproveitou a oportunidade para buscar atendimento especializado devido a alterações na pele. “Gostei do atendimento na Uepa, e vou seguir o tratamento com o remédio que a doutora receitou”, disse.
Silvia Rocha, moradora de Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém, soube da ação por meio das redes sociais, e procurou exame de uma mancha suspeita na pele. Durante a triagem, recebeu o diagnóstico positivo para hanseníase, e já iniciou o tratamento. “Aqui todos fomos bem acolhidos, e o atendimento foi ótimo”, garantiu.
Informação - A dermatologista e professora do CCBS/Uepa, Regina Carneiro, secretária-geral da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), disse que o mutirão em Belém foi uma oportunidade de levar cuidado e informação à população, enfatizando a importância do diagnóstico precoce da hanseníase, doença que ainda representa um desafio de saúde pública no Brasil.
Segundo ela, "a enfermidade afeta de forma desproporcional populações vulneráveis, historicamente marcadas por pobreza e acesso limitado à saúde. Em 2023, mais de 70% dos novos casos foram registrados entre pessoas pretas ou pardas. Precisamos romper esse ciclo com ações concretas, como esse mutirão", afirmou. Os pacientes atendidos e detectados com a doença já receberam a primeira dose da medicação, para iniciar o tratamento gratuito pelo SUS.

Cenário global - Em maio de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecer oficialmente as doenças de pele como prioridade global de saúde pública. Segundo o Boletim Epidemiológico de Hanseníase 2025, do Ministério da Saúde, o Brasil notificou 22.773 casos novos da doença em 2023, com aumento de 16% em relação ao ano anterior.
Segundo a Sespa, no Pará a taxa de detecção do número de casos de hanseníase foi de 1.437 em 2024, por 100 mil habitantes. Em Belém, os casos passaram de 132, em 2023, para 164, em 2024, apresentando um aumento na taxa de detecção de 9,38 para 11,73. De janeiro a junho de 2025 já foram registrados 528 novos casos de hanseníase no Estado, sendo 54 em Belém.
A médica Alice Brandão, graduada pela Uepa e residente em Dermatologia pela instituição, participou pela primeira vez de um mutirão específico de combate à hanseníase. Ela destacou a importância de diagnosticar uma doença endêmica e garantir à população atendimento especializado. Segundo a médica, muitos pacientes enfrentam dificuldades de acesso, o que torna a ação ainda mais relevante.
Retorno social - O aluno Alexandre Velasco, do 10º semestre do curso de Medicina na Uepa, também avaliou positivamente a experiência, ressaltando que participar de ações como essa contribui tanto para a formação profissional quanto para o retorno social para a comunidade. "É preciso habituar o olho a reconhecer esse tipo de doença e outras enfermidades recorrentes na prática da clínica médica, pois o paciente vai aparecer com essas queixas, seja maligna ou benigna, independente da especialidade que estivermos atuando, e estaremos prontos para ajudar", acrescentou.
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, que atinge principalmente a pele e os nervos periféricos. Seus principais sinais são manchas com perda de sensibilidade, formigamento e fraqueza nos membros. A transmissão ocorre por contato próximo e prolongado com pessoas não tratadas. Apesar de antiga, a hanseníase ainda é um desafio de saúde pública no Brasil, segundo país com mais casos no mundo.
Serviço: A Uepa mantém o Serviço de Referência em Dermatologia da Uepa de segunda a sexta-feira, no Campus II/CCBS, na Travessa Perebebuí, nº 2623, bairro do Marco, em Belém. Os atendimentos são marcados via encaminhamento médico, por meio das Unidades Básicas de Saúde.
(Colaboração de Vitória Balieiro, estagiária, sob supervisão de Diane Maués – Ascom/CCBS)