Emater incentiva manejo de açaí para quadruplicar renda na Ilha do Marajó
Famílias ribeirinhas são assentadas da reforma agrária no município de Afuá

Sob orientação do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), o manejo de açaizais da várzea dos rios de Afuá, no Marajó, em quatro anos pode quadruplicar a renda de extrativistas moradores de ilhas em áreas de assentamento federal. Atualmente, cada família acompanhada pela Emater trabalha em cerca de dois hectares e obtém faturamento bruto anual de, em média, até R$ 30 mil, vendendo o caroço in natura sobretudo para o estado vizinho do Amapá.
A estimativa dos especialistas da Emater de projeção de lucro e abertura de mercado baseia-se no incentivo estrutural, como acesso a crédito rural e fortalecimento de associações e cooperativas, e na atualização contínua sobre o pacote tecnológico do projeto "Bem Diverso", da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Projeto faz parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
Consoante à expertise da Emater e parceiros, a adoção das estratégias recomendadas, inclusive no sentido de preservação ambiental - como roçagem, limpeza e compatibilização de espécies -, inclina resultados além do transformador de renda, do aumento de produtividade e da diminuição de gasto com mão-de-obra: no caso, as famílias podem estabilizar o período de safra e coletar o fruto por pelo menos dez meses do ano - de novembro a agosto.

“É açaí o ano inteiro - e esse fator é relevantíssimo para segurança alimentar e nutricional, porque, mesmo no período previsto para improdutividade, setembro o outubro, ainda há o suficiente para o que o ribeirinho amazônida chama de “o do bebe” [do verbo “beber”]. O açaí é um dos principais alimentos da tradição, dentro das casas dos próprios extrativistas”, explana o chefe do escritório local da Emater em Afuá, o engenheiro agrônomo Alfredo Rosas, pós-graduado em Manejo Ambiental de Solos.
Capacitação
Rosas esteve à frente do último treinamento realizado pela Emater, ao longo deste mês de agosto, com o apoio da Embrapa, da Cooperativa de Alimentos da Biodiversidade do Amapá (Bio+Açaí) e da Prefeitura.
Ao todo, 62 famílias participaram da Oficina de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais nativos. Elas moram na comunidade Santa Rita, no assentamento Ilha Charapucu, às margens do Rio Aningal, e na comunidade Pentecostes, no assentamento Ilha Cajuúna, às margens do Rio Cajuúna.
Durante a experiência, os extrativistas receberam kits de equipamentos de proteção individual (epis) doados pela Bio+Açaí, contendo bota, capacete, lima (ferramenta de aço, usada para desbaste), lona plástica, luvas, óculos e terçado. De acordo com a Emater, cada kit gratuito representa para os extrativistas uma economia anual de R$ 250 a R$ 300.
Na comunidade Tenda da Benção, o extrativista Janilson Pureza, de 45 anos, acumula a influência de liderança religiosa, como pastor evangélico, e liderança social, como presidente da Cooperativa Agroextrativista de Afuá (Coop Brasil), recém-constituída, com o incentivo da Emater. São 23 associados de quatro comunidades: Betesda, no rio Curupaxi, e os territórios de assentamento federal Pentecostes, Santo Antônio e Tenda da Benção.
“Falar é importante, mas mostrar é o verdadeiro exemplo. Minha vivência com a Emater é muito proveitosa, porque é um órgão com o qual eu conto há 16 anos, sempre orientando, estimulando. A questão do manejo faz toda a diferença: o produto incrementa a qualidade, a produtividade aumenta, a produção aumenta, o processo de coleta é facilitada”, detalha.
Janilson e a esposa, Claudiane Pureza, de 37 anos, moram com os três filhos no Sítio Boa Esperança: Eliabe, de 8 meses; Samilly, de 9 anos e Samuel, de 15 anos. O açaí é o cardápio de todos os dias, no almoço e no jantar, sem açúcar e com farinha d’água. “Somos ‘viciados’, no ótimo sentido”, brinca.
Texto de Aline Miranda