Pesquisa propõe biorrefinaria para ampliar o potencial econômico de espécies amazônicas
Com apoio da Fapespa, a biorrefinaria tem o objetivo de agregar valor à matéria-prima da floresta, aumentando o retorno social e econômico para produtores locais
A Amazônia destaca-se como a maior reserva mundial de biodiversidade e variabilidade genética de plantas, animais e microrganismos, com mais de 30 mil espécies vegetais ainda pouco exploradas. Apesar de todo esse potencial, a cadeia produtiva dos recursos vegetais da região ainda é limitada. A maior parte da produção está voltada ao fornecimento de ingredientes de alto valor agregado, destinados, principalmente, a grandes indústrias nacionais e internacionais.
Nesse contexto, a iniciativa da biorrefinaria busca estudar a biodiversidade amazônica por meio do aproveitamento total de matéria-prima extraída da floresta, inclusive dos resíduos, visando ao reaproveitamento de todos os recursos naturais, promovendo a melhoria da qualidade de vida das comunidades, a oferta de novos produtos, a diminuição do impacto ambiental e o estímulo à sustentabilidade e à bioeconomia regional.

A adoção do conceito de biorrefinaria para frutos amazônicos prevê o uso de técnicas ambientalmente inovadoras, como os processos de alta pressão, para extrair diferentes frações dessas matérias-primas. O objetivo, futuramente, é gerar bioprodutos de alto valor agregado, como óleos essenciais, extratos bioativos e funcionais, que poderão ser utilizados em embalagens biodegradáveis, alimentos, cosméticos, medicamentos ou bioinsumos agrícolas.
Sustentabilidade - Essa proposta inovadora, financiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), objetiva agregar valor a todas as etapas da cadeia produtiva dos vegetais, aplicando tecnologias sustentáveis que possam ser utilizadas tanto pelas empresas, quanto pelas comunidades que produzem a matéria-prima, reaproveitando resíduos, e assim permitindo a geração de renda para esses produtores durante todo o ano, e não apenas na entressafra.

A pesquisadora Luiza Helena Meller da Silva, da Universidade Federal do Pará (UFPA), está à frente do estudo BIORE-AMAZÔNIA - Biorrefinaria das cadeias de frutos Amazônicos: uma abordagem para intensificação da recuperação de óleos essenciais, moléculas bioativas e produtos de alto valor para ampliar o retorno econômico e social para os produtores do Pará. Ela lidera uma equipe de pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), que trabalha em parceria com a empresa 100% Amazônia, localizada no município de Abaetetuba, na Região de Integração Tocantins, no nordeste paraense.
A partir dos resultados dos estudos, a pesquisa mostrou que a ucuúba, árvore típica da Amazônia, pode ser usada de forma sustentável para produzir tanto uma manteiga estável e rica em compostos benéficos, quanto extratos antioxidantes de alto valor. O pracaxi, outra árvore amazônica, de cujas sementes se extrai óleo, também foi estudado pelos pesquisadores, que manipularam o óleo e os resíduos. Esse aproveitamento integral abre caminho para novos produtos nas áreas de cosméticos e saúde, trazendo benefícios econômicos e ambientais para a região.
O projeto foi iniciado em 2023, de acordo com a liberação dos recursos do Programa Amazônia +10, uma vez que as FAPs (Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa) foram repassando os fomentos gradativamente, conforme o andamento das pesquisas.

Amazônia +10 - O projeto faz parte da primeira chamada da Iniciativa Amazônia +10, Programa que oportunizou os estudos de 500 pesquisadores, em 20 estados. Os investimentos foram viabilizados por meio das FAPs, totalizando R$ 41,9 milhões, distribuídos entre as 39 propostas apresentadas por 18 estados da Federação e pelo Distrito Federal.
Estas Instituições atuam em sinergia no estudo de propostas de biorrefinarias para matérias-primas selecionadas, viabilizando o uso integral dos resíduos do processo. Com os resultados expressivos das pesquisas, houve o desenvolvimento de equipamentos específicos para as matrizes amazônicas, elaboração de material didático para a coleta, armazenamento e transporte dos resíduos gerados no processo de produção em cadeia de frutos amazônicos, e treinamento dos profissionais em boas práticas de fabricação.
Construção coletiva - A bioeconomia baseia-se no uso sustentável para gerar produtos e serviços, sendo alternativa para combater o impacto ambiental e gerar renda para comunidades locais. A proposta do estudo parte da construção coletiva das demandas regionais, e está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas), e aposta na integração entre grupos de pesquisa, gestão pública e setor privado para promover uma bioeconomia mais inclusiva e sustentável na Amazônia.
O destaque na importância do estudo é “gerar processos e produtos que possam promover a ampliação de renda e a diminuição do impacto ambiental através da agregação de valor, principalmente, dos resíduos que até o momento são descartados como lixo”, reforçou a pesquisadora Luiza Helena Meller da Silva.
Para o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, “agregar valor aos produtos da sociobioeconomia é a chave para avançarmos na geração de renda local. Atrelado a isso, teremos mais empregos para nossa população e um fortalecimento de todos os elos das cadeias produtivas”.
O governo do Estado impulsiona projetos sustentáveis, e “a Fapespa, como financiadora, tem papel fundamental na viabilização das etapas experimentais e pagamento de bolsas de pesquisa para os discentes do projeto”, completou a pesquisadora.
Texto: Jeisa Nascimento, estagiária, sob a supervisão de Manuela Oliveira - Ascom/Fapespa