Comunidade científica da Amazônia apresenta contribuições para a Agenda de Ação do Brasil
Fapespa reforçou o papel da Amazônia nas discussões globais sobre o clima, evidenciando a ciência e a tecnologia como pilares para a construção de um futuro sustentável
A Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia se reuniu, nesta quarta-feira (12), no Museu das Amazônias (MAZ), para o painel “Contribuições da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia para a Agenda de Ação do Brasil – Superando os Desafios de Mitigação e Adaptação Climática”. O evento integrou o Mutirão Global liderado pela Presidência da COP30, a fim de traduzir o conhecimento produzido na região em soluções concretas para o enfrentamento da crise climática.
A iniciativa busca contribuir, diretamente, para a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil, no período de 2025 a 2035, e para o cumprimento dos compromissos assumidos no Acordo de Paris.
Esforço coletivo - Na ocasião, foi lançado o livro “Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia”, resultado do Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com o presidente da COP30 no Brasil, embaixador André Côrrea do Lago, e a primeira-dama do Brasil, Rosângela Lula da Silva (Janja), realizado em agosto de 2025, em Manaus (Amazonas). A obra reúne contribuições de mais de 70 Instituições de Ensino Superior, Tecnológicas e de Ciência, Tecnologia e Inovação, representando um esforço coletivo da comunidade científica em favor de políticas climáticas mais eficazes e territorialmente adequadas.
O painel, promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), apresentou os principais resultados desse trabalho conjunto, e contou com a participação da secretária-adjunta do CDESS, vinculado à Secretaria de Relações Institucionais, Raimunda Monteiro, como moderadora da mesa 01, composta por Marilene Corrêa, da Universidade Federal do Amazonas/Museu da Amazônia (Ufam/Musa) e conselheira do CDESS –, representando a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência); Henrique Pereira, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa); Tatiana Sá, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Gregorio Sánchez, professor e investigador do Servicio Autónomo Centro Amazónico de Investigación y Control de Enfermedades Tropicales (SACAICET), da Venezuela, e Marcel Botelho, vice-presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e diretor-presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
“Essas instituições estão em um trabalho transversal para a COP30. Eu diria que é a COP da aplicação do conhecimento tradicional e do conhecimento científico. É a COP que vai conseguir fazer a síntese daquilo que o mundo pensa para a Amazônia, mas a partir dos seus próprios sujeitos. Uma coisa nós sabemos: sem a Amazônia, a partir dos sujeitos ativos na Amazônia, dificilmente nós vamos fazer uma política de mitigação dos recursos naturais, e fazer a nossa compensação, assim como transmitir aos outros biomas e outros ecossistemas o que é viver junto com a natureza, fazendo parte dela”, disse a professora Marilene Corrêa, membro da Diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que compôs a primeira mesa do painel.
A mesa 02 foi composta pelos painelistas Vanessa Graziotin, secretária da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA/Brasil); Marcelo Bregagnoli, secretário de Educação Profissional e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação (Sectec/MEC); Matheus Azevedo, conselheiro do CDESS; Tanara Lauschner, reitora da Ufam, e Luís Antônio Elias, da Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep). A moderação coube a Esther Bemerguy, conselheira do CDESS.
Bases para o futuro - Entre os temas debatidos estão soluções inovadoras propostas pelas instituições de tecnologia e os desafios da mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A expectativa é que o encontro contribua para fortalecer o papel da Amazônia nas discussões globais sobre clima, destacando a importância da ciência e da tecnologia como bases para a construção de um futuro sustentável.
Especialistas apresentaram diferentes perspectivas sobre como a ciência, a tecnologia e a informação podem gerar impactos positivos para a produção sustentável e a melhoria das condições de vida das populações locais. Eles também destacaram a importância de valorizar os saberes tradicionais e o conhecimento ancestral das comunidades amazônicas como parte essencial do desenvolvimento sustentável do Brasil.
Para Matheus Azevedo, ativista e pesquisador amazônico, “hoje, construindo essa grande rede, e essa ligação entre o conhecimento científico acadêmico, mas também o conhecimento científico tradicional, é preciso quebrar o tabu de separar os dois mundos em duas caixinhas, como, historicamente, o sistema quis nos moldar. A gente precisa compreender que as Amazônias, múltiplas em sua pluralidade, estão produzindo ciência, conhecimento e tecnologia em todos os seus cotidianos, e em suas nuances, da simplicidade dos seus cotidianos. E essas comunidades, no pé do território, a partir das suas vivências tradicionais e do legado da ancestralidade que carregam, também são cientistas, também estão produzindo conhecimento. São os guardiões e cientistas da floresta”.
Matheus Azevedo, reforçou na conversa que a própria metodologia acadêmica já mostra que os resultados mais eficazes chegam com as práticas e os testes contínuos, no dia a dia da comunidade e do território. Segundo ele, é um grande teste de resistência e resiliência que essas comunidades continuam praticando em seus modos de vida, para manter a relação com o território, com esse manancial de biodiversidade que é a Amazônia.
'Amazônia +10' - Marcel Botelho ressaltou que as Fundações de Amparo à Pesquisa (Faps) desenvolvem um trabalho muito interessante, que representa o incentivo à ciência, tecnologia e inovação, que é a Iniciativa Amazônia +10. “Esta é uma iniciativa de 25 FAPs, e já temos a Guiana Francesa como membro partícipe dessa iniciativa. A ideia é expandir mais, para a Pan-Amazônia, porque é o mesmo ecossistema com várias diferenças entre eles, mas nós temos condições de expandir. E temos parceiros europeus colocando recursos. Mas, qual é a grande diferença dessa iniciativa em relação a tantas outras que já foram feitas na Amazônia? É que ela busca o protagonismo dos amazônidas, das instituições e dos pesquisadores da Amazônia”, explicou o titular da Fapespa.
Sobre as políticas de apoio e fomento à ciência e tecnologia na Amazônia, Marcel Botelho informou que “todo recurso das FAPs é externo porque nós temos um impedimento legal de não poder aportar recursos do Pará no Amazonas, por exemplo. Mas o CNPq pode, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pode, a Finep pode, o British Council pode, e assim por diante. Então, todo recurso externo só pode ser aplicado na Amazônia para garantir que não só haja o desenvolvimento do capital social das pessoas, dos cientistas, das bolsas, mas também, haja o desenvolvimento da instituição. O ecossistema é formado por esse todo”.
Deste modo, o painel promovido pelo “Conselhão” (como é chamado o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável) reuniu conselheiros e cientistas da Amazônia para discutir contribuições à Agenda de Ação do Brasil voltada à transformação social e à sustentabilidade.
Texto: Jeisa Nascimento, estagiária, sob supervisão de Manuela Oliveira - Ascom/Fapespa
