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Cuidados paliativos no HRPC humanizam o tratamento oncológico e reforçam o respeito à vida

Hospital Regional de Castanhal oferece abordagem multiprofissional que alia controle da dor, acolhimento e comunicação humanizada, desmistificando a ideia de que o cuidado paliativo é apenas para o fim da vida

Por Governo do Pará (SECOM)
25/12/2025 08h00

No Hospital Público Regional de Castanhal (HRPC), referência em atendimento oncológico para 38 municípios do Nordeste paraense, o cuidado vai muito além do tratamento curativo. Ali, onde diariamente são acolhidas pessoas em diferentes estágios do câncer, existe também um olhar voltado ao conforto, ao alívio da dor e à dignidade: são os cuidados paliativos, uma abordagem que ainda enfrenta muitos mitos, mas que representa, acima de tudo, o respeito à vida em todas as suas fases.

A médica paliativista Carla Helena Rocha explica que o cuidado paliativo não é sinônimo de desistência, mas de acolhimento e planejamento. “Gosto de usar uma metáfora para explicar. Imagine uma tarde bem paraense, com chuva marcada para às 15h, e você tem um compromisso inadiável. Sabendo que vai chover, levaria uma sombrinha? A maioria das pessoas responde que sim. O cuidado paliativo é como essa sombrinha: uma proteção para quem precisa caminhar sob a tempestade de uma doença que ameaça a vida”, compara.

Segundo a médica, o cuidado paliativo deve ser iniciado logo após o diagnóstico, integrado ao tratamento curativo ou modificador da doença. “É uma abordagem que melhora a qualidade de vida do paciente e da família, considerando a pessoa como um todo seus sintomas, mas também o sofrimento emocional, social e espiritual”, reforça.

Entre os maiores equívocos, está a crença de que o cuidado paliativo é apenas para pacientes em fase terminal. “Ainda há o pensamento de que só se recorre ao paliativo quando a medicina não tem mais o que fazer. E isso é um erro. Quanto mais cedo ocorre a integração, mais benefícios o paciente tem em qualidade de vida”, explica Carla.

No HRPC, o serviço é realizado por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, nutricionistas e farmacêuticos. O grupo atua de forma consultiva com as equipes assistentes dos pacientes internados e também em atendimentos ambulatoriais voltados a pessoas com câncer.

“Aqui, discutimos cada caso com atenção e construímos um plano de cuidados individualizado. Cada pessoa tem uma história, uma trajetória e um contexto familiar. Não seguimos protocolos rígidos, cuidamos de  pessoas”, resume a médica.

Um dos principais desafios é a comunicação. Muitas vezes, o paciente e a família não recebem informações claras sobre o diagnóstico ou sobre o objetivo do tratamento. “Há pacientes fazendo quimioterapia paliativa sem saber disso. A falta de diálogo adia o acesso a um cuidado que melhora a vida. Outro desafio é a falta de conhecimento entre profissionais de saúde. Só em 2022 os cuidados paliativos passaram a ser disciplina obrigatória na graduação de medicina”, destaca Carla Helena.

A médica também aponta a fragilidade da rede de atenção, especialmente para pacientes que vivem em municípios menores. “Muitos precisam de seguimento domiciliar e não têm equipe de apoio em suas cidades. É um ponto que ainda precisamos fortalecer”, observa.

A abordagem paliativa tem como base a comunicação compassiva e a escuta ativa. A equipe trabalha para aliviar sintomas físicos, mas também sofrimento psicológico, social e espiritual. “Com a permissão do paciente, a família participa de todas as comunicações e planejamentos. Também cuidamos do cuidador, porque muitas vezes ele adoece junto. Cuidamos do paciente e da família”, enfatiza Carla.

A dificuldade de compreensão por parte dos familiares, segundo ela, está diretamente ligada à forma e ao momento em que o cuidado é apresentado. “Quando o paliativo chega tarde, associado à ideia de que ‘não há mais o que fazer’, é natural a resistência. Mas se for explicado desde o início, a família entende que é sobre qualidade de vida e não sobre desistir”, analisa. 

Para a Dra. Carla Helena, a medicina paliativa reconhece a finitude da vida como um processo natural, que não deve ser adiado nem acelerado. “Nós afirmamos a vida em todas as suas fases. Escutamos, compreendemos e acolhemos o ser humano em todas as suas dimensões”, observa.

A médica destaca que, além de conhecimento técnico, o trabalho exige preparo emocional e espiritual da equipe. “Desenvolvemos habilidades de escuta e autoconhecimento. A compaixão é essencial reconhecer o sofrimento do outro e agir para aliviá-lo”, destaca. A espiritualidade, segundo ela, também é parte fundamental do cuidado. “Não se trata apenas de religião. É sobre propósito, sentido da vida, conexão com o sagrado. Integrar isso à rotina do paciente melhora sua qualidade de vida”, assegura. 

Com o aumento da longevidade e o avanço das doenças crônicas, a demanda por cuidados paliativos cresce em todo o país. A Política Nacional de Cuidados Paliativos, lançada em 2024, é considerada um marco. “Ela orienta a integração dos cuidados à rede de atenção à saúde e fortalece a atenção primária. Isso significa ampliar o acesso e garantir que o cuidado chegue a todos os lugares”, ressalta a médica.

Histórias 

Entre os pacientes atendidos pelo setor de cuidados paliativos do Hospital Público Regional de Castanhal (HRPC), as histórias se unem em torno de um sentimento comum: o acolhimento. São pessoas que, mesmo diante de doenças graves, encontram na equipe médica e multidisciplinar um espaço de escuta, segurança e humanidade.

O aposentado Raimundo de Lima está sempre acompanhado da sobrinha, Dulcileide de Lima

Um desses pacientes é seu Raimundo Vale de Lima, agricultor aposentado de 75 anos, morador de Santarém Novo. Acompanhado sempre pela sobrinha Dulcileide de Lima, de 43 anos, ele conta que se sente tranquilo e confiante durante o tratamento. “Gosto muito desse hospital e de todos. Sem esse tratamento seria muito mais difícil”, afirmou seu Raimundo, que viaja regularmente até Castanhal para as consultas com a médica Dra. Carla Helena, responsável pelo acompanhamento.

A dedicação de Dulcileide também chama atenção. Ela parou as atividades que tinha na cidade de origem para acompanhar o tio. “Faço questão de estar junto em todas as consultas. Ele se sente mais seguro, e eu também aprendo muito sobre cuidado e sobre o valor da presença”, conta.

Seu Benedito e a mulher, Neide, enfrentam juntos o tratamento

Outro exemplo é o do casal Benedito e Neide Negrão, que enfrenta junto o desafio do tratamento. Seu Benedito, de 82 anos, começou a ser atendido no HRPC no início deste ano e, em uma das consultas, foi apresentado à proposta dos cuidados paliativos. Ao ouvir a explicação, ele concordou prontamente, demonstrando serenidade diante da nova etapa. Já dona Neide, emocionada, revelou o quanto o tema ainda é delicado. “Eu sei que o momento vai chegar, mas ainda não me sinto preparada para a despedida”, disse, com a voz embargada.

Histórias como as de Raimundo e Benedito mostram que o cuidado paliativo vai muito além do aspecto médico. Ele envolve empatia, respeito e o reconhecimento de que cada paciente carrega uma história que merece ser cuidada até o fim, com dignidade e amor.

Texto: Patrícia Baía