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Painéis da Forest Zone mostram como o Pará protege quelônios em terra e no mar

Dois painéis chamaram atenção pela força do tema: o impacto das mudanças climáticas na reprodução das tartarugas marinhas e a proposta de criação de uma unidade de conservação na zona costeira do Pará, voltada à proteção de quelônios

Por Vinícius Leal (IDEFLOR-BIO)
11/11/2025 21h52

A tarde do 1º dia de programação da Forest Zone, evento paralelo à COP30 promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio) foi marcada por ciência, emoção e alerta. Dois painéis chamaram atenção pela força do tema: o impacto das mudanças climáticas na reprodução das tartarugas marinhas e a proposta de criação de uma unidade de conservação na zona costeira do Pará, voltada à proteção de quelônios. Pesquisadores, gestores e a sociedade civil se reuniram para ouvir histórias da linha da maré, onde a vida começa e onde a crise climática já deixa marcas.

O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou que os painéis mostram como a ciência amazônica está produzindo respostas sérias para os impactos climáticos. “A conservação precisa ser feita com conhecimento, planejamento e participação da sociedade. Proteger tartarugas é proteger as praias, os manguezais, os rios e todo o equilíbrio climático da Amazônia Atlântica. O Pará está fazendo isso com ciência, com políticas públicas e com as comunidades ao lado do Estado”, afirmou.

No primeiro painel, “Como as Mudanças Climáticas Redefinem a Sexualidade e a Reprodução das Tartarugas Marinhas na Amazônia Atlântica”, a mestra Josie Figueiredo, presidente do Instituto Suruanã, trouxe dados científicos, mas também um apelo para que o oceano e seus habitantes sejam vistos como sentinelas do planeta. Entre gráficos e relatos de campo, ela explicou como o calor altera o destino de um ninho antes mesmo de os filhotes abrirem os olhos.

“O sexo das tartarugas marinhas é determinado pela temperatura. Quando falamos em aquecimento global, estamos falando diretamente dessa interferência. Temperaturas altas geram fêmeas e temperaturas baixas geram machos. Se o calor aumenta demais, não temos apenas um desequilíbrio na razão sexual: os ovos literalmente cozinham”, alertou. Segundo Josie, essa mudança silenciosa transforma as praias, antes berçários equilibrados, em ambientes de risco.

Bioindicadores - A pesquisadora reforçou que as tartarugas são bioindicadores, capazes de mostrar a saúde dos oceanos e do planeta. “Acompanhar a razão sexual desses animais é acompanhar o clima. Por isso o estudo de conservação é tão importante: ele nos mostra como a natureza está respondendo a esse novo cenário.” Ela explicou que a determinação do sexo começa por volta dos 21 dias de incubação, motivo pelo qual o manejo técnico é rigoroso. “Quando precisamos transferir um ninho, isso precisa ser feito nas primeiras seis horas, antes do início da formação do sexo”, completa.

Josie também aproveitou o painel para falar sobre comportamento humano. Muitas tartarugas sobem às praias do litoral paraense para desovar, mas ainda há quem não saiba como agir. “Se o animal está encalhado, está doente. Se está desovando, precisa de tranquilidade. Em qualquer situação, é necessário acionar equipes especializadas: Instituto Suruanã, Instituto Bicho d’Água, Instituto Bioma, as secretarias de meio ambiente ou Bombeiros. Interferir sem orientação pode ameaçar a vida do animal”, enfatiza. 

O público quis saber onde é possível avistar tartarugas no Pará. A resposta confirmou a grandiosidade da costa amazônica. “São animais altamente migratórios e estão presentes em todo o litoral. Mas em locais como Salinópolis e Curuçá é mais fácil vê-los se alimentando”, contou. A especialista deixou um recado importante: “É um trabalho de formiguinha, mas a sociedade está mais consciente. Quem estuda conservação há mais de 15 anos já consegue perceber bons resultados”, frisou Josie Figueiredo. 

Novas UCs - Logo depois, a programação seguiu para o segundo painel da tarde, apresentado pela Dra. Priscila Fonseca, analista ambiental do Ideflor-Bio: “Criação de Unidade de Conservação na Zona Costeira para Proteção de Quelônios no Estado do Pará”. A pesquisadora explicou que o projeto se concentra em Araraquara, área rural do município de Soure, no Arquipélago do Marajó, onde estudos vêm revelando a presença de espécies marinhas e de água doce em um mesmo ambiente — um achado científico raro.

“A criação dessa unidade visa reforçar a proteção de quelônios em uma área com grande predação e atividade ilegal. É um passo crucial para a conservação, fiscalização e levantamento científico. Além de proteger a biodiversidade, a unidade garante a preservação do ecossistema que serve de alimento, reprodução e berçário para os animais”, pontuou Priscila.

Entre as espécies observadas pelo estudo, estão a tartaruga-oliva e a tartaruga-cabeçuda, ambas marinhas, além da tartaruga-da-amazônia e da pitiú, de água doce. Para Priscila, a complexidade ecológica da zona costeira do Marajó é justamente o motivo pelo qual ela precisa ser protegida. “É uma área de transição entre mar e rio, influenciada pelo Atlântico e grandes bacias hidrográficas. Abriga manguezais, berçários naturais de peixes, crustáceos e quelônios. É uma riqueza que o mundo precisa conhecer”, descreve a especialista. 

A pesquisadora lembrou que Araraquara ainda conta com baixa interferência humana e comunidades que utilizam os recursos naturais de forma sustentável. “A criação da unidade não é apenas científica: é cultural, social e ambiental. É proteger uma área onde a natureza ainda consegue respirar”, finaliza Priscila.