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Emater incentiva empreendimentos quilombolas em Santarém, no oeste estadual

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater) auxilia agricultores familiares a diversificarem a produção e obterem melhor renda

Por Governo do Pará (SECOM)
28/11/2025 10h03
Em Santarém, no Baixo Amazonas, a Emater assiste famílias inscritas no Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais

No território quilombola Bom Jardim, no km 27 da rodovia PA-370, em Santarém, no Baixo Amazonas, Laisa Assunção, de 28 anos, chega a vender pela vizinhança 50 bolos caseiros por mês. São receitas autorais, que adaptam tradições e aproveitam ingredientes regionais, como cacau e macaxeira. 

“Sempre fiz bolo, sempre fui deste lado da confeitaria. Podem parecer bolos normais, mas eles registram dedicação e história. Meu plano é criar uma marca com nome e logo, estabelecer um ponto comercial e profissionalizar mais os serviços: logo de pronto, dá pra dobrar o número de bolos e aumentar a coisa além que confecciono, que é salgados”, assinala a agricultora familiar atendida pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater). Ela vive com o marido, Adevan Guimarães, de 30 anos, e o filho do casal, Kauã Silva, de 11 anos. 

Entre 2024 e 2025, por meio do Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais (Fomento Rural), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e no Pará executado pela Emater, a família recebeu um recurso de R$ 4 mil e 600 reais, em duas parcelas, para investir no empreendimento, com a aquisição de novos equipamentos, a exemplo de fogão moderno e liquidificador mais potente. 

No período, são 17 famílias quilombolas ao todo participando do Fomento Rural em Santarém. Além de panificação, os projetos incluem beneficiamento e armazenamento de itens de sociobiodiversidade, criação de galinha-caipira, pesca artesanal e adequação ambiental e sanitária para suinocultura. O objetivo imediato é que as populações vulneráveis superem condições de pobreza e extrema pobreza. 

“O Fomento Rural é uma política pública diferenciada para os quilombolas de Santarém - é incentivo ao empreendedorismo e à autonomia financeira. Tudo isso ajuda com que as pessoas intensifiquem os valores de pertencimento e a situação de territorialidade, ajuda com que se mantenham no campo, inibe êxodo, aquele movimento histórico de deslocamento da zona rural atrás de melhores oportunidades socioeconômicas: o êxodo rural acarreta consequências coletivas profundas e até um apagamento e um esquecimento da produção campesina. Quando estruturamos a oferta de serviços na própria comunidade, a qualidade geral de vida se transforma: o resultado é trabalho e renda, lazer, integração e sucessão familiar - não de forma isolada para os indivíduos, mas em um âmbito comunitário”, afirma Haroldo Sousa, sociólogo do escritório local da Emater em Santarém, especialista em Gestão e Licenciatura no Curso Superior. 

No município, a equipe da Emater acompanha de forma direta mais de 900 famílias de 13 comunidades quilombolas, em parceria com a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS): Arapemã, Bom Jardim, João Pereira, Nova Vista do Ituqui, Murumuru, Murumurutuba, Patos do Ituqui, Pérola do Maicá, São José do Ituqui, Saracura, São Raimundo do Ituqui, Surubiu-Açu e Tiningu. 

A expectativa do órgão estadual é que os na atualidade contemplados pelo Fomento Rural acionem, já no primeiro semestre do ano que vem, via elaboração da Emater e liberação pelo Banco da Amazônia (Basa), crédito rural da linha A do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), no valor unitário de até R$ 50 mil. 

Realizações

Ainda na Bom Jardim, outra microempresária, Aldenice Oliveira, de 43 anos, calcula as vantagens do Fomento Rural, pelo qual tem melhorado o negócio de extrativismo e comercialização de açaí batido.  O trabalho é junto com o marido, Adriano Pereira, de 37 anos. Na safra, os dois vendem cerca de 50 litros de açaí médio em um só dia.

Outra principal atividade deles é a produção de óleos medicinais da floresta amazônica, tais quais andiroba e buriti. 

“Nosso mercado é sob encomenda, embora tenhamos uma produção regular porque existe uma clientela fixa. Conforme a demanda, a gente tem saída de vidro de 25 ml até de um litro. Tem óleo que a gente demora até quatro meses extraindo, destilando, haja vista ser um processo muito delicado e demorado. Os óleos são jóias da floresta: significam o conhecimento repassado de geração pra geração, o respeito à natureza, a sobrevivência sustentável de um povo”, comenta a mãe de nove filhos, com idade entre quatro e 24 anos. Sete dos filhos nasceram dentro da comunidade: três pelas mãos do pai. Dois já adultos estudam Economia e Engenharia Florestal na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). 

“Meus filhos se formando nessas áreas que tudo têm a ver com os negócios da família, eu pretendo melhorar a ‘farmácia viva’. Já me sinto uma empresária, sim, mas o caminho é pensar alto, grande e lá pra frente: produzir mais e melhor, contribuir com a comunidade e em igual tempo ultrapassar fronteiras, alcançar o mundo. Temos muito pra mostrar. A vivência quilombola é um registro de ascendência, de herança cultural, de laço e de raiz. Um produto daqui é um consumo que envolve reflexão”, diz. 

Texto de Aline Miranda